MUDANÇA É A PALAVRA DO ANO DE 2018 – O QUE ISSO QUER DIZER? CONFIRA A ANÁLISE DO ECONOMISTA CELSO TOLEDO

Uma possibilidade é que os mais ricos e os mais pobres vejam a palavra mudança com um pouco mais de esperança do que a turma do meio.

Há alguns dias participei do júri de especialistas que escolheu as 5 palavras finalistas da pesquisa Palavra do Ano 2018, promovida pela CAUSE em parceria com o Ideia Big Data. 

Por 3 horas, eu e 7 colegas de diferentes áreas discutimos sobre as mais de 600 palavras que surgiram nas pesquisas feitas ao longo do ano.

Chegamos à conclusão de que as palavras que melhor definem o sentimento a população em 2018 eram MUDANÇA, CAOS, ESPERANÇA, LUTA E MEDO.

As 5 finalistas voltaram para o voto popular, e MUDANÇA foi escolhida a Palavra do Ano de 2018.

Fui entender melhor o que está por trás dessa escolha.

A tabela abaixo mostra os cruzamentos e os gráficos que revelam algumas tendências no comparativo entre as classes A e B1, B2, C1 e C2 e isolando a DE.

Apenas para facilitar a interpretação da tabela, a primeira linha mostra que 28,7% das pessoas da classe A votaram na palavra “mudança”; 27,9% a favor de “esperança” e assim por diante.

Primeiro, as palavras com acepção aparentemente positiva (mudança e esperança) venceram as de viés mais negativo (caos e medo).

No entanto, a palavra “mudança”, que venceu, pode ser entendida de de diferentes formas – pois pode significar uma virada para melhor ou para pior. Achei interessante o eleitor mediano ter preferido essa palavra mais salomônica (ou seja, criteriosa).  

Isso possivelmente reflete em parte a natural polarização da sociedade após uma eleição. Todos concordam que houve mudança, mas nem todos gostaram dela.

Com exceção da classe C1, que gosta mais de “luta” do que “esperança”, o ordenamento entre as palavras é consistente entre os grupos. Todos concordam que “mudança” é a melhor, seguida de esperança, luta, caos e medo.

O gráfico da palavra vencedora é o único com configuração em formato de “U” invertido. Ela foi relativamente menos votada nos extremos da distribuição de renda que, curiosamente, parecem ter preferido (relativamente, mas não absolutamente) a palavra “esperança”.

Desconfio, dado o tamanho da amostra, que a diferença entre “esperança” e “mudança” não seja estatisticamente significativa para as classes A e DE.

Uma possibilidade é que os mais ricos e os mais pobres vejam a palavra mudança com um pouco mais de esperança do que a turma do meio.

Vejam que a frequência das palavras de cunho mais negativo é inversamente proporcional à renda. Parece que quanto mais rico é o sujeito (e, supostamente, mais bem educado e informado), mais preocupado ele parece estar.

Esse resultado pode ter sido apenas um ruído estatístico, mas também enseja algumas explicações.

Quem sabe “medo” e “caos” já façam parte do cotidiano de quem tem renda menor e, por isso, não sejam conceitos que eles usem para distinguir um ano?

Ou, alternativamente, quem sabe essa turma esteja mais focada na luta (são os que, de longe, votam mais nessa palavra)? Como se sabe, quem luta não pode ter medo.

COMO A PESQUISA É FEITA

A pesquisa para a #PalavraDoAno2018 é composta por 3 fases.

Fase 1: Duas consultas abertas, foram feitas no primeiro e no segundo semestre de 2018. No total, foram 3.481 respostas.

Fase 2: Em uma reunião de especialistas, feita nesta quarta-feira (13/11), foram decididas as cinco finalistas. Os convidados têm múltiplas formações. Todos, de alguma maneira, atuam com o universo da palavra. São eles:  Jarid Arraes, Sérgio Spagnuolo, MC Soffia, PMC, Celso Toledo, Denis R. Burgierman, Denis R. Burgierman, Amara Moira e Leandro Beguoci (ver perfis completos abaixo).

Fase 3: Na segunda quinzena de novembro, as palavras finalistas voltaram para pesquisa popular e por processo de ponderação estatístico para aferir a opinião de uma audiência representativa da população brasileira. A amostra contou com 1537 respostas.

QUEM FORMA O JURI DE ESPECIALISTAS

Jarid Arraes – Escritora, cordelista e poeta. Tem mais  de 60 títulos publicados em Literatura de Cordel.

Sérgio Spagnuolo – É jornalista, fundador e editor da agência de jornalismo de dados Volt Data Lab, além de mestre em Relações Internacionais e Direitos Humanos pela PUC-SP e colaborador do site de checagem Aos Fatos.

MC Soffia  – Rapper, cantora e compositora brasileira. É conhecida pelas letras de suas canções, que falam sobre distorções sociais graves, como preconceito, racismo, machismo e que incentivam outras garotas a se amarem do jeito que são.

PMC – Está na cena Rap/Hip-Hop desde o final dos anos 80. Pedagogo, usa a música como instrumento para alfabetizar crianças.

Celso Toledo  – Economista, doutor pela USP, mestre pela FGV. Consultor econômico, sócio e diretor das empresas LCA, E2 e MCM.

Denis R. Burgierman –  Jornalista, escreveu livros como “O Fim da Guerra”, sobre políticas de drogas, e “Piratas no Fim do Mundo”, sobre a caça às baleias na Antártica.

Amara Moira  – Ativista da visibilidade trans, é escritora, crítica literária e doutora em Literatura pela Unicamp.

Leandro Beguoci – Diretor editorial e de produtos da Associação Nova Escola. Entre suas iniciativas estão a maior revista e o maior portal para educadores do país. Antes de Nova Escola, Beguoci foi editor-chefe e head de branded content da F451, startup de jornalismo e conteúdo, onde organizou o modelo de negócios da organização. Também foi editor-chefe do grupo FOX no Brasil, onde organizou e estruturou a área digital da companhia. Foi também editor-executivo do iG, responsável por novos produtos e reformulação editorial, e repórter da Folha de S.Paulo e da revista Veja. É jornalista formado pela Faculdade Casper Libero, mestre em governança em mídia e comunicação pela London School of Economics e fellow em empreendedorismo em jornalismo pelo Tow-Knight Center da CUNY (City University of New York).


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