A liberação de 31 novos agrotóxicos pelo Ministério da Saúde, nesta semana, levantou novamente o debate sobre os impactos destas substâncias na saúde da população e sua suposta importância para as atividades agrícolas.
O modo acelerado como a autorização dos produtos tem se desenrolado está despertando a apreensão de ambientalistas. Apenas nos primeiros 4 meses deste ano, a quantidade de autorizações foi 42% maior do que a verificada no mesmo período em 2018.
Diante do debate sobre os malefícios das substâncias à saúde e ao meio ambiente, e a possibilidade cada vez maior da flexibilização dos mecanismos de controle de sua aplicação, escolhemos a REDUÇÃO DO USO DE AGROTÓXICOS como #CausaDaSemana.
Com as liberações ocorridas nos últimos dias, já são 169 pesticidas aprovados em 2019, um número mais alto do que o total aprovado em cada ano entre 2010 e 2015.
As discussões em torno dos químicos envolvem, pelo menos, dois grupos: os ruralistas, que alegam que os agrotóxicos são necessários para aumentar a produtividade das lavouras, e os ambientalistas, que afirmam que o motivo não se sustenta e apontam sérios danos ambientais à saúde da população causados pelas substâncias.
Quando o assunto é o bem-estar da população as notícias não são animadoras. Entre 2014 e 2017, foram encontrados agrotóxicos na rede de abastecimento de água que podem causar doenças graves, como malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Já o número de intoxicação por agrotóxicos dobrou desde 2009 no Brasil. Passou de 7 mil para mais de 14 mil, em 2018, segundo o Ministério da Saúde.
Enquanto isso, grupos opostos tentam emplacar seus projetos de lei (PL) no Congresso. Deputados ruralistas propuseram, em 2002, um PL com a intenção de flexibilizar as regras para registro e uso dos defensivos agrícolas. Já em 2016, parlamentares que contaram com o apoio de organizações como FioCruz e Greenpeace, apresentaram uma proposta que busca reduzir o uso das substâncias e endurecer a fiscalização.
Para os especialistas, com a aceleração de autorizações, o Brasil tem andado na contramão de países desenvolvidos, mantendo um mercado aberto a agrotóxicos nocivos e permitindo que multinacionais estejam liberadas para fabricar e comercializar aqui, produtos proibidos em seus países de origem.
Exemplo disso é o inseticida sulfoxaflor, restrito nos EUA e ligado à morte de diversas abelhas, e o glifosato, que, segundo a OMS, pode causar câncer.
Para informar a população sobre as autorizações aos agrotóxicos que vêm sendo concedidas pelo Governo, o projeto Por Trás do Alimento, organizado pela Agência Pública e pelo Repórter Brasil, lançou o Robotox, um robô que vai publicar no Twitter cada uma delas.
Assim, mais uma vez, o país parece desconsiderar as recomendações de instituições de saúde, meio ambiente e as tendências mundiais, para privilegiar o interesse mercadológico de um grupo empresarial, em detrimento da preservação do bem-estar da população e do nosso ecossistema.