Estudo revela – com números! – os benefícios para empresas que colocam desafios ambientais, sociais e de governança (ESG) no centro da estratégia de negócios.
Por: Leandro Machado
Uma dúvida cruel paira sobre a cabeça de 10 entre 10 empresários e executivos com quem eu converso: os investimentos em responsabilidade social corporativa (ou mais recentemente chamados de ESG) trazem retornos concretos para essas empresas? Elas crescem mais que as empresas menos socialmente responsáveis? Elas conseguem acesso à capital (dinheiro) mais barato?
Se por um lado essas lideranças estão acostumadas a calcular o retorno sobre um investimento financeiro ou produtivo (como a construção de uma nova fábrica, por exemplo), por outro sentem calafrios ao pensar em como medir o impacto das ações de sustentabilidade, pois essa mensuração não é tão óbvia assim. Os números, benchmarks e metodologias ainda são escassos para medir esse retorno.
Mas o cenário tem ficado cada vez mais claro ao longo dos últimos anos, graças a uma série de fatores, entre eles a maior atenção de grandes investidores sobre o tema, grandes crises corporativas e também estudos que tentam jogar luz no assunto, como o Project ROI, conduzido pela prestigiosa Babson College, líder no ensino de empreendedorismo nos EUA e reconhecida globalmente.
Ainda que não seja propriamente novo (foi publicado originalmente em 2015), ele continua sendo o principal estudo na área devido à abrangência e profundidade, sendo usado como referência para pesquisas posteriores.
O que é ROI?
O ROI é uma sigla em inglês para “Return on Investment”, que significa Retorno Sobre Investimento em português. É um indicador financeiro que tem como objetivo medir o retorno que um investimento pode gerar em relação ao valor investido. Ele pode ser usado para avaliar o sucesso de um investimento e compará-lo com outras opções disponíveis no mercado.
O que é o estudo?
O estudo “Project ROI – How to measure impact” foi conduzido pela Babson College e seu objetivo era avaliar o business case para práticas de responsabilidade corporativa (RSC) e determinar se essas práticas geram ou não benefícios financeiros e/ou competitivos para as empresas.
A pesquisa usa quatro termos de forma equivalente: Responsabilidade Social Corporativa, Responsabilidade Corporativa, Sustentabilidade e ESG. Esses termos se referem aos esforços de uma empresa para:
- Reduzir sua pegada corporativa, gerenciando seus recursos de forma a reduzir/mitigar os impactos negativos em todo o ecossistema da empresa
- Realçar/reforçar as soluções que geram impactos positivos
- Disponibilizar e reportar transparentemente seus esforços nesse sentido
- Determinar, em diálogo com seus stakeholders, as responsabilidades da empresa (accountability) em sua performance ESG
Principais achados do estudo
O estudo do Babson College descobriu que as práticas de RSC têm um grande potencial para gerar retornos financeiros sobre o investimento (ROI) e benefícios competitivos e de negócios relacionados a esses retornos. No entanto, é necessário que essas práticas sejam bem executadas e inseridas efetivamente na estratégia da empresa (e não tratadas como um projeto filantrópico).
Assim como em qualquer outro aspecto da gestão empresarial, alguns tipos de investimentos em RSC/ESG têm sucesso e outros falham. Portanto, as empresas devem ver suas práticas como uma valiosa coleção de ativos.
O estudo sugere também que as práticas ESG bem planejadas e gerenciadas ajudam a impulsionar o valor das empresas de várias maneiras.
Com desenho e investimento adequados, os “Ativos” ESG de uma empresa podem trazer retornos relacionados a:
- Valor de mercado e preço das ações
- Receita e Vendas
- Marca e reputação
- Riscos e licença para operar
- Recursos Humanos
Principais números
O estudo revisou mais de 300 pesquisas acadêmicas existentes, a grande maioria dos quais se concentrando na experiência de grandes empresas de capital aberto, pois a transparência dos resultados financeiros torna mais fácil medir a relação entre RSC e o desempenho financeiro.
Além disso, muitos dos benefícios advindos de uma sólida estratégia de ESG/RSC estão relacionados à melhoria do balanço patrimonial, o que é especialmente relevante para as empresas de capital aberto.
Ainda assim, os números são impressionantes e falam por si só – e podem ser usados como referência para outros tipos de empresa. Vejamos o retorno sobre investimento potencial para as grandes empresas de capital aberto, em três grandes áreas:
Valor de mercado, preço da ação e redução de riscos:
- em um período de 15 anos, incremento em valor para o acionista de USD $1.28 bilhão
- aumento entre 4% a 6% em valor de mercado
- redução do custo de dívida em 40% ou mais
Marketing, Vendas e Marca/reputação
- incremento em receitas de até 20%
- incremento do ‘price premium’ em até 20%
- evita perdas de receita de até 7% do valor de mercado da empresa
Recursos Humanos
- redução da taxa de ‘turnover’ em até 50%
- incremento em até 13% em produtividade
- aumento do engajamento do colaborador em até 7,5%
O que fazer?
O estudo sugere que as empresas devem adotar uma abordagem sistemática para aumentar o potencial de gerar valor financeiro e de negócios através de boas práticas ESG. Essas abordagens também devem reforçar os objetivos de entregar benefícios tangíveis para a empresa e para a sociedade ao mesmo tempo.
O estudo propõe uma abordagem de 4 passos:
FIT – estabelecer compromissos ESG que estejam alinhados com os atributos da empresa e com as expectativas dos stakeholders
COMMIT – estabelecer e comunicar compromissos genuínos, desafiadores e duradouros para endereçar questões ESG prioritárias e relevantes para o negócio
MANAGE – pensar, desenvolver e gerenciar seu portfolio de ações ESG como um ativo intangível. Usar esses ativos para reforçar a performance financeira, de marca, reputação, P&D etc.
CONNECT – conectar e conscientizar os principais stakeholders sobre os compromissos, prioridades e principais ações ESG. Desenvolver estratégias de engajamento que construam confiança, orgulho e crie afinidade, entre outros.
Embora as práticas de ESG possam contribuir para a lucratividade e o sucesso dos negócios, elas são dependentes do contexto geral da empresa. As práticas ESG não podem substituir a qualidade e a atratividade dos produtos e serviços oferecidos por elas.
Portanto, as práticas de responsabilidade social corporativa não podem compensar deficiências estratégicas e gerenciais em outras disciplinas do negócio. Elas devem complementar e agregar ainda mais valor a bons produtos e serviços.
Devem estar integradas ao negócio. Devem ser a forma de fazer negócios. E é por isso que demandam um olhar estratégico, de longo prazo.
Sem isso, não há investimento que dê retorno.
A CAUSE é uma consultoria que trabalha com ESG e programas de impacto, o que inclui:
- Estratégia e governança para sustentabilidade;
- Análise e benchmark para identificar gaps em ESG;
- Estratégia de performance em ESG;
- Cultura e engajamento em ESG;
- Análise crítica de relatos;
- Comunicação e reporte em ESG;
- Desenvolvimento e implementação de programas de impacto positivo.